A Câmara Municipal de Curitiba recebeu na quarta-feira, 16, Audiência Pública com o tema "Extinção dos cursos técnicos da UTFPR" por iniciativa do vereador Marcos Vieira. Com a participação de mais de 150 pessoas, entre alunos, ex-alunos, professores e comunidade em geral, a audiência discutiu a decisão da Pró-Reitoria de Graduação Profissional do encerramento dos cursos técnicos oferecidos pela Instituição até o ano de 2020, sendo a turma deste ano a última a ingressar na modalidade.
O principal ponto levantado durante a audiência foi sobre a viabilidade em se manter os dois cursos técnicos - eletrônica e mecânica - na instituição. “Foi solicitado na universidade a composição de uma comissão formada por alunos e professores para avaliar o ensino técnico. Essa comissão gerou um relatório que aponta a viabilidade e a necessidade da manutenção desse ensino técnico integrado”, declarou a Profª Drª Marcela Lima Cardoso Selow.
Os professores Adriano Rodrigues de Moraes e Ronald Lewis Karp também defenderam a manutenção dos cursos e ressaltaram que há espaço e condições na instituição que, desde a sua origem como centro tecnológico, tem o objetivo de profissionalizar alunos para o mercado de trabalho e, com a transição para Universidade, foi regulamentada a manutenção desta modalidade de ensino.
Com a experiência de mais de vinte anos em indústrias da cidade, o vereador Marcos Vieira comentou sobre a grande perda para o mercado, sobretudo o setor industrial. "Antes de estar vereador, trabalhei por mais de vinte anos na indústria automobilística e metalúrgica e, como gestor, sei o diferencial que um curso técnico da UTFPR faz em um currículo e na formação dos alunos que querem investir neste setor, será uma grande perda."
Para Franciana Fagundes, presidente do grêmio estudantil, faltam motivos plausíveis que justifiquem a necessidade do encerramento destes cursos. Segundo ela, até agora não foi apresentado nada de concreto que motive esta decisão. Já o ex-aluno e estudante de Direito, Luiz David Botero, alegou que esta não é uma reivindicação recente, já são anos de luta contra decisões como esta em nível nacional, como em Minas Gerais e São Paulo, e se intensificou com as ocupações secundaristas em 2016, com mais de mil escolas ocupadas só no Paraná, inclusive a UTFPR.
Sob a ótica jurídica, o advogado do Grêmio Estudantil da UTFPR, Dr Henrique Judice Magalhães, apresentou as irregularidades que encontrou ao analisar o processo decisório da Universidade. Segundo ele, a instituição reduziu o número de vagas dos cursos sem que isso passasse pelos colegiados internos competentes e ainda não respeitou a lei 11.184/2005 que impõe à UTFPR a manutenção dos cursos técnicos. Já a Universidade alega que está respeitando a lei em razão da continuidade dos cursos técnicos nas unidades de Pato Branco e Campo Mourão, entretanto, o advogado defende que os cursos devem ser mantidos na capital pelo alto nível de industrialização da cidade e da sua região metropolitana.
Participação da comunidade
Na abertura da plenária para os participantes, a estudante de direito e pedagoga da rede municipal, Valdeliz Martins, se solidarizou com a luta e afirmou a necessidade de se investir ainda mais na educação ao invés de se cortar as conquistas já consolidadas. "Como profissional da área sei da dificuldade que a educação vem passando na nossa cidade e no nosso país, mas não podemos desistir", afirmou.
Entre as perguntas e ponderações realizadas, muito se questionou sobre como a comunidade pode contribuir para buscar uma forma de reverter esta decisão. A ex-vereadora e ex-deputada federal, Drª Clair da Flora Martins, respondeu que esta decisão ainda não chegou para a maioria da população, "Vamos para a Boca Maldita, vamos denunciar essa situação. Tive a oportunidade de discutir com professores do CEFET, com líderes de diversos sindicatos, com alunos e a grande aspiração daquele colegiado era manter os cursos técnicos integrados ao sistema de graduação e pós-graduação".
Próximos Passos
O encaminhamento da Audiência Pública será realizado em uma próxima reunião com os componentes da mesa para que sejam definidos os próximos passos com base na discussão realizada, entretanto, como declarado durante o evento, o grande objetivo é fazer esta demanda chegar ao congresso nacional, única esfera com poderes de interferir em uma decisão a nível federal. Serão ainda realizados novos atos de mobilização e apelo para maior participação popular.